Ela veio. A covid... justo hoje...
Se vivo fosse meu saudoso pai estaria completando 98 anos de idade. A cada dia que passa mais me identifico com tudo que ele falava e fazia. Era um sábio. Republiquei um poema em sua homenagem.
Hoje meu neto Calebe faz 10 anos de idade. Eu lembrei dos meus dez anos. Minha família não estava na cidade. Naquele ano (o primeiro em que estudei), durante as férias juninas, voltamos para a colônia*. Lembrei coisa nenhuma. Nada! Hoje, não consigo lembrar sequer de ter esquecido o meu aniversário.
Mas hoje vi meu neto com carinha feliz. Não necessariamente pelo poema que compus para ele, onde usei seu linguajá e suas palavras que recolhi de suas redes sociais. Mas também pela minha presença, que durante esta pandemia, tem sido muito criteriosa, portanto limitadíssima.
Também fiz um paralelo entre os estágios de tecnologia das duas épocas. Nesta, vejo meu neto totalmente integrado à internet com perfis de milhares de seguidores e lamentando ainda não ser adulto pra "ir mais longe". Aliás ele sempre esteve a frente de sua idade. Tanto que já se acha adolescente, conforme mostrei no poema. Do outro lado, me vejo naquele longínquo 1968, onde o mais longe que eu tinha chegado, em materia de progresso tecnológico, foi descobrir, após abrir o velho radio de pilha Phillips, que apesar do barulho que fazia, nada se movia dentro dele, a não ser quando mudava de estação (ocasião em que um complicado sistema mecânico movia um grupo de lâminas metálicas fazendo-as intercar-se ao outro grupo semelhante). A bem da verdade minha astúcia sofisticada não foi suficiente para perceber que o Autofalante vibrava. Fiquei alguns instantes pensando nesse abismo de tecnologia que separa esses cinquenta e dois anos. Não me vindo outra palavra sussurei "Abissal" esse abismo.
* Colônia era o termo para os pequenos lotes rurais no entorno de Porto Velho