Súplica Nordestina - Gonzaguinha
Em meio ao rigor do insano embate
tremula a mão ao apontar a rosa,
tão silenciosa quanto escarlate,
em pétalas gradientes de rima e prosa.
Transposto o topo dos altivos ramos
a orvalhada flor, gotejante e pura,
se apresenta tênue, tenra e sana.
Prepara o ambiente à verdade dura.
Irrompem as pétalas no mais puro olor,
matizando a luz, oh benigno hifema,
em sonoros versos de alegria e dor.
Urge a tragédia, sua estratagema,
de solene inércia e bravio torpor:
levado o poeta. Legado o poema!
História deste Soneto:
Segunda-Feira, 29 de abril de 1991. Eu e mais 23 colegas entre eles, meu particular amigo Jorge Edson, empreendíamos um curso sobre teletransmissão de dados, no então CESEC Santa Genoveva do Banco do Brasil, nos arredores do Aeroporto de Goiânia. Ao adentrarmos a sala e abrirmos as janelas percebi um rosa desabrochada bem no ápice de uma roseira, ao lado de uma dessas janelas. Mostrei ao meu amigo e ele com com toda sua sensibilidade falou mansamente; "Ela está nos dizendo alguma coisa". Catei minha máquina, e antes da aula começar, cliquei algumas vezes. Horas depois, durante o intervalo para o lanche, a TV anunciava o terrível desastre com um dos maiores artistas que o Brasil já teve, nosso saudoso Gonzaguinha. Ainda naquele mesmo dia comecei escrever este poema. Foram vinte anos até sua conclusão (Set/2011).