Feitiço vs. Feiticeiro
Sempre fui mais de perder o amigo que a piada. Exageros a parte, logicamente. Sempre que acendo a churrasqueira, vendo algum amigo que ainda não saiba da brincadeira, peço o azeite de oliva extra virgem grego para a tocha inicial e, a ser questionado, por esse desavisado amigo, respondo que é pra não deixar mau cheiro na carne. O pedido é dirigido à alguém que conhece a brincadeira que prontamente me traz um pote onde guardamos as sobras das gorduras de frituras. Tudo acaba em risos e a brincadeira termina por aí.
Recentemente adotei ter na cozinha um óleo de boa qualidade para o tempero dos guisados e cosidos e um óleo de soja comum para as frituras, sem abrir mão, é claro, de um azeite para a mesa. Assim estavam lá amigável e harmoniosamente lado a lado um frasco de óleo de soja e um de misto de milho e canola. Isso até o dia em que minha mulher organizando o ambiente, não percebendo as diferenças (os rótulos de fato eram muito parecidos) e ainda xingando o "'engraçadinho' abriu um novo litro de óleo antes de terminar o outro", juntou os dois num mesmo frasco. Quando percebi já não havia nada a ser feito. Nada mesmo pois, por questão se bom senso e segurança, nesse caso é melhor não comentar mais nada. Mas como disse no início aquela história de preferir perder o amigo, impliquei com ela até levar a bronca merecida. A ideia de ter dois óleos diferentes perdeu peso e altura nesse momento, até porque usamos muito pouca gordura para temperar comida mas quase que exclusivamente para frituras, mesmo.
O causo estaria esquecido se tivesse terminado por aí, não é mesmo? Além do que que, como costumo a dizer. após uma tempestade, vem sempre muito prejuízo. E veio.
Meus colegas se reuniram na minha casa para uma peixada. No meio do jantar chegou um deles com carnes para churrasco, mas já se comprometendo de providenciar tudo. Lembro-me então dele me perguntando como eu fazia o fogo. Se eu já prego a peça do azeite quanto sequer sou instigado, imaginem só se ia perder a oportunidade diante daquela pergunta. Fí-lo. Terminado o riso o colega perguntou-me o que de fato eu usava para acender a churrasqueira. Apontei na direção do pote de sobras de gordura que, coincidentemente, fica abaixo do local onde guardo o óleo. Não deu outra, quando percebi e após as labaredas já arderem em bom volume, o colega já estava devolvendo o frasco do glorioso óleo misto de soja/milho/canola, criado por minha mulher. Nem comentei com ninguém na hora. Depois comentei o fato com minha mulher e rimos a beça. Ela até praguejou: "qualquer dia desses, pro castigo ser perfeito, vão fazer fogo com azeite, mesmo."
E vocês acham que praga de mulher não tem efeito? Estão enganados. Alguns dias depois cheguei em casa e encontrei um outro amigo fritando uma calabresa defumada no mais puro e genuíno azeite de oliva extra virgem . A desculpa dele foi cabeluda: Nem havia percebido que era de oliva.
Por precaução, vou, eu mesmo,acender a churrasqueira até achar uma proteção melhor para meus "extra-virgens"...
Chico Chagoso
Enviado por Chico Chagoso em 22/01/2013
Alterado em 28/01/2013