Junho de 1970. Eu ouvi!
Eu tinha quase 12 anos! Morava no ramal São Domingos, em Porto Velho (Não existe mais esse ramal. ficava entre a atual feira do produtor rural e o Cai-N'água). Estava no próprio Cai-N'água, trabalhando e brincando. Muito mais brincado, é claro. (Eu carregava bananas das embarcações até o topo do barranco e ganhava alguns trocados).
Lá no México, Itália e Brasil se enfrentavam na finalíssima da copa de 70. Ouvia pelo rádio. Ainda não havia Televisão na cidade e eu não entendia quase nada de futebol. E também não gostava. Mas era copa do mundo. E pelo que parecia, eu tinha que gostar. Pelo menos todos pareciam gostar. Então eu também deveria gostar, e estava tentando. O jogo continuava... e eu nas minhas bananas...
De repente, mais um gol! E mundo parecia querer explodir. Eu nunca tinha visto ou ouvido nada igual. Aquilo começava a me contagiar. Tinha que ser algo bom, ou então tanta gente não estaria naquele frisson. No ar o cheiro forte de pólvora contaminava todos os locais. Na rua todos gritavam e os pouquíssimos carros que existiam estavam na rua a buzinar
Veio então um silêncio sepulcral, assim como se todos tivessem resolvido por fim àquela baderna de há pouco... Eu até que tentava entender. Mas pra um menino vindo do interior aquilo tudo era muito complexo. Então achei melhor "achar o caminho de casa". E corri! Mas não deu tempo. O juiz não esperou. Eu não chegara em casa e jogo chegava ao fim. Acabou o jogo e o mundo também estava se acabando. Consegui chegar em casa e lá encontrei uma festa sem tamanho na rua. O que lembro com detalhes é que perto de uma venda havia muitas bombinhas no chão (daquelas que vêm dentro dos fogos de artifício). Provavelmente de foguetes estragados. Eu apanhei umas 50 e saí explodindo. Depois, numa casa abandonada, havia uma espécie da calçada de tábuas presas apenas numa ponta (com três travessões, mas presas apenas num deles) E eu pulava sobre elas de forma que a ponta solta erguia-se e atingia com muita força o tal travessão. E isso fazia um barulho ensurdecedor, era minha festa particular.
Na minha cabeça ficaram muitas dúvidas, ainda. Tri seria mais que vice? Qual seria a ordem? O maior seria o Campeão, depois o Vice, depois o tri? Não sabia. Mas também não fazia muita diferença... Se não estou enganado, meu pai não trabalhou por três dias (foi carnaval).
Era festa.
Hoje recordo nitidamente com muita saudade.
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Chico Chagoso
Enviado por Chico Chagoso em 27/05/2007
Alterado em 20/02/2021