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Recanto do Chagoso
Prosa e Poesia
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Valores e Valores
- Vó corre aqui.
O grito veio da área de serviço. Era Bebel a neta e companheira de dona Dulce.
- Que foi filha?.. Tô ocupada! Que aconteceu!- Entretinha-se na receita de um escondidinho de charque, sua especialidade.
- O dinheiro que a senhora perdeu!
- Achou?
- Tá aqui na maquina de lavar. Tá preso nessa coisa que gira - Referia-se ao agitador - Dá pra ver a pontinha...
- Mas não pode ser... eu perdi lá na feirinha!... Como foi parar ai? - Já se aproximando do local.
- Não sei! Mas veja a senhora mesma!
     Dona Dulce usou os óculos pra perto mas o fundo da máquina estava muito distante, então trocou-o pelos outros, "pra longe".  Muito perto agora. De forma que via apenas um vulto de algo que parecia uma ponda de uma cédula de cem reais.
- Vamos minha filha. Tira ai, logo!
- Ah vó! Se desse eu ja tinha tirado, né?. Não sai. Tá presa. E molhada é  arriscado rasgar. Só se eu ligar a máquina.
- Não! Ela vai jogar água e depois vai destruir a nota! Tira da tomada que nós vamos arrumar uma forma de recuperar... Apesar de achar muito estranho esse dinheiro vir parar aqui.... Já sei! Uma pinça!
- Já tentei vó! Ai arranquei um pedacinho... Porque a senhora não chama o "seu" Pedro?
- Ele vai cobrar uma fortuna, ainda mais quando souber que é pra pegar uma nota de cem reais...
     Não teve outra saída e chamou o vizinho que até parecia já esta de olho na muvuca toda...
- Olha dona Dulce, normalmente eu cobro 40 reais só pra abrir uma lavadora... mas como é pra senhora e aqui do meu lado... vou cobrar só 15... E vai demorar aí uns 15 minutos... - Foi a proposta do vizinho técnico.
    Proposta aceita as duas não arredaram o pé do local, enquanto "seu" Pedro desmontava a tal máquina. Em menos de oito minutos ele erguia vitorioso uma cédula toda encolhida e quase desbotada. Sem sequer olhar direito entregou-a a dona Dulce.
     Por sua vez dona Dulce que era só alegria foi diminuindo o sorriso e esboçando um ar de tristeza, enquanto desdobrava a cédula. Finalmente ergueu mostrando pra neta uma cédula de dois reais. Nem chegou a comentar nada e saiu em disparada
   - O escondidinho! - gritou pra sí mesma.
     Quando seu Pedro se foi dona Dulce ainda comentou com a neta.
- Fica triste não, minha filha! A gente só perdeu 15 reais e o escondidinho que queimou!  E ainda por cima, cumprimos nossa obrigação de valorizar o dinheiro, independente do valor da cédula. E tem mais: Na verdade perdemos só treze reais, pois os dois reais salvos vai ajudar na despesa de hoje...
    
Chico Chagoso
Enviado por Chico Chagoso em 05/05/2015
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