Só havia um eixo vertical, que lhe permitia movimento horizontais de "nãos". Assim era a cabeça de velho bêbado. Nunca resistia uma olhada sequer sem que balançasse a cabeça em um "não" desaprovativo. Naquela manhã segurava um pedaço significativo de pão e como se não quisesse quebrar o encanto não o levava na boca. Apenas meneava a cabeça em sucessivos "nãos". De repente apareceu no final da rua, Marcelinha, de apenas quinze aninhos. Mas uma mulher formada e pronta para a vida adulta. Só havia beleza no seu corpo, seus gestos, seus movimentos. O Velho bêbado foi diminuindo  os efusivos "nãos" que agora não passavam de leves "talvezes". Quando finalmente Marcelinha fitou-o de frente provocou-lhe uma enorme e total transformação. Primeiro foi o pão que caiu esfacelado. Depois veio o sorriso que ha muitos anos não aparecia em seu rosto. E por fim o emperrado eixo horizontal desenferrujou e um Gracioso e tímido "Sim" se fez presente. Marcelina era muito inocente para entender o grandioso significado daquele balançar de cabeça. O tempo, talvez, lhe dissesse algum dia.