A tristeza lhe caía como o "viaduto" de João Bosco¹, embora nunca tivesse ouvido a bela música. Uma calça velha, uma camisa e um gibão no matolão². Na cabeça, os dois filhos, a mulher, o roçado estorricado e a esperança perdida; sobre ela apenas um surrado e chamuscado chapéu de couro que herdara de um tio menos acometido de sorte. Deixara feijão para um mês. Construía-se a Usina de Paulo Afonso. Haveria de achar uma saída. Ali, a sua frente o Banabuiú³ jazia seco, mais morto que o Saara. Lembrou o abraço forte em cada um dos seus. Não era de fazer isso, abraçar. Mas o momento justificou e requereu. Ajustou mais uma vez o matolão² e continuou sem olhar para trás. O primeiro minuto de separação já lhe parecia uma eternidade. . "Mãe! O papai vai buscar comida pra nós?" era a voz debilitada de Pedrinho. Engoliu seco. Apressou o passo, secou a lágrima afoita. E foi-se. ¹) Refere-se à musica "O bêbado e o Equilibrista", de João Bosco
²) Espécie de alforje usado pelos sertanejos nordestinos.
³) Rio que corta o sertão Cearense.
Ilustração: Fragmento descolorido e esmaecido de imagem d site mensagens com amor