Minicrônica por Gecildamaria
Um belo dia, a sorte bateu às portas do seu João. Com seus não mais que cinquenta anos, sua aparência o denunciava a setenta. Culpa do excesso de cachaça, talvez. Anos desempregado, vivia numa grande casa, no nordeste, onde era muito querido na comunidade. Sua precária sustentação era advinda de sua mãe que morava em outra cidade. Pois, neste dia de sorte, um amigo resolveu dar-lhe um emprego: cuidar de seus poucos bois.
Os primeiros dias do mês foram de surpreender a todos. Seu João, cedo estava na labuta. Sem muita experiência no ramo, digo no exercício, estava dando conta das tarefas.
Pois bem, logo, ansioso pro recebimento do seu primeiro salário, algo veio a assustar seu João. Ao chegar talvez até mais cedo que os dias de antes, foi recebido por seu patrão, enfurecido e inquieto. Com voz alta e em tom de raiva dizia ao empregado: "O garrote sumiu! Desde ontem! Você não viu? Não notou nada?!!!!"
Poxa! Pra quem tão pouco tinha de gado, um garrote ia lhe fazer muita falta. "Não vi não, meu amigo, senão só teria ido embora quando achasse o bichinho!", justificava o pobre empregado. O patrão disse a seu João que havia procurado tudo e não o tinha encontrado, que ele, o empregado, desse conta do desaparecido.
A manhã foi curta pro azarento do empregado. Por mais esforço que fizesse, nada do bezerrinho. Foi então que o homem teve uma brilhante ideia: pegou a vaca, mãe do garrote e teve uma longa conversa com ela. "Oh! Mãe desnaturada, como você pode perder seu filhinho? Não viu como ele fugiu? Deve ter aprontado alguma, hein?!" De pé de orelha falava tão severamente que parecia que o animal estava entendendo tudinho. Pegou a vaca pelo cabresto e seguiu a andar com ela e dizendo sempre: você vai achar teu filho, sua mãe dos infernos!
De tardezinha, quase ao anoitecer, o patrão, que de amigo já não tinha nada, procurava seu João pra ter notícias, agora também de sua vaca. Ai! Ai! O homem quase morreu de susto e alegria, ao ver seu João e sua vaquinha, e muito mais, acompanhados por seu lindo bezerrinho.
Todo orgulhoso, o empregado, chegando pertinho do recuperado amigo, disse logo: "Mereço o quê?!"